sábado, 17 de abril de 2010

Gayatri Mantra

Um dos mais poderosos mantram, detentor de grande respeito e considerado o mantra da iluminação, é o Gayatri, que pratico regularmente no yoga..


Na Índia conta-se que um jovem meditador chamado Manu buscava a iluminação. Ele fazia todas as práticas de yoga, mas não tinha o menor interesse em ler ou estudar os livros sagrados. Era perito em exercícios respiratórios, posições físicas, meditação e concentração, mas não gostava de ler, o que incomodava seus gurus.


Um dia, numa prática meditativa, Manu foi visitado pela deusa Indra, que já há muito observava as práticas do jovem. Indra disse a Manu:


— Suas práticas de yoga e sua busca pela iluminação me despertam a compaixão por ti e te ajudarei em tua busca. Pede-me o que desejares.


Manu, assombrado pela presença de Indra, fez-lhe uma reverência, inclinando-se, e disse:

— Permite-me conhecer todos os mistérios dos textos sagrados sem que eu os leia ou estude, pois minha natureza é a de praticante, e não a das teorias contidas nos livros.

Indra, perplexa, riu diante do pedido e disse a Manu que seria impossível:


— Manu, pede-me outro desejo, pois até hoje nenhum ser atingiu a iluminação sem antes estudar os textos sagrados. É como um homem que queira, jogando pedras sobre o mar, aterrá-lo. Isso é impossível como também é impossível conhecer os textos sem lê-los. Pede-me outra coisa, Manu.


Manu respondeu:


— Se é assim, nada desejo, pois somente a iluminação é a minha meta. Não me interesso por nenhuma riqueza ou honra deste mundo.


Indra, feliz por reconhecer a humildade do jovem Manu, recuou em suas convicções e disse-lhe:


— Manu, por tua pureza e busca sincera, dou-te um mantra que, praticado, permitirá que alcances a iluminação sem dominar os textos.


E Indra ensinou o Gayatri Mantra:

 
Om Bhúr Bhuva Swáhá

Tat Savitur Varenyam


Bhargo Devasya Dhimahi


Dhyo Yo Nah Prachodayat.


O Gayatri é, portanto, o Mantra da Iluminação, considerado por vários sábios o mais completo e poderoso que podemos praticar. Ele é total — atua desde os aspectos mais sutis do ser até a matéria.


Outro mito conta que numa reunião de vários sábios na Índia criou-se esse mantra, que é chamado de “Mãe dos Vedas”, pois ao praticá-lo adquire-se todo o conhecimento dos textos sagrados e se acumulam méritos — karma positivo. Em suas sílabas está contida toda a essência da mística e filosofia hindu, na qual destaco:


Jnaña Yoga – o conhecimento da sua eternidade e o abandono do impermanente;


Bhakti Yoga – devoção a todos os elementos da natureza, já que o Gayatri contém em suas sílabas elementos como fogo, ar, água, terra, homens, animais, sol, lua, estrelas etc;

Karma Yoga – que dá consciência de nossa interdependência com todos os seres vivos e nossa responsabilidade de deixarmos o planeta em paz.


Cada sílaba do Gayatri contém um significado místico:


Om – a mãe/o pai de toda a eternidade;


Bhúr – a mãe Terra, o planeta Terra, o plano físico;


Bhuva – o éter, a atmosfera, o plano astral;


Swáhá – o céu, os planos não-materiais celestes, conhecidos como angélicos ou devas;


Tat – “aquele”, nossa alma, a transcendência do ilusório e do triunfo;


Savitur – o poder da luz, o abstrato, a vida presente em tudo, a nutrição;


Varenyam – adoração por tudo;

Bhargo – a irradiação da consciência da vida, a eliminação dos maus karmas e o acúmulo de méritos;

Devasya – todos os seres, a nossa iluminação e a aceitação do que se é;

Dhimahi – meditação, domínio;

Dhyo – corpo, austeridade;

Yo – alma, consciência;


Nah – totalidade, criação;


Prachodayat – iluminação e compaixão.

 
O iluminado Krishna diz no Bhagavad Gita:


“Entre todos os sons e versos sagrados, eu sou o Gayatri”.



Significado


Bhúr, bhuva e swáhá são os três planos da existência. Na teoria védica das equivalências (bandhu), essa divisão tripartida do universo tem muitos níveis de significados. Refere-se aos três mundos: o infinitamente grande, o humano e o infinitamente pequeno; aos três gunas, ou às três qualidades da natureza: inércia, ação e equilíbrio (tamas, rajas e sattwa); ou ainda ao paralelo que existe entre as estruturas da consciência e da natureza. Ou seja, assim como é em cima, é também embaixo, o macrocosmo reflete o microcosmo. Savitur, o Sol, é o símbolo da consciência e ao mesmo tempo da kundalini. Faz-se o Gayatri Mantra para celebrar a existência e harmonizar-nos com o poder de transformação presente na natureza. Este mantra é um convite à contemplação da força que move o macrocosmo, o microcosmo e o homem.
Yantra é um símbolo ou mandala que representa algo, no caso, o Gayatri Yantra refere-se à iluminação.



Para praticar o Gayatri, sente-se com a coluna ereta e com o yantra colocado à altura de seu rosto, iluminado pela chama de uma vela. Visualize o centro do símbolo, evitando piscar enquanto mentaliza ou vocaliza esse mantra mantra.


Os efeitos dessa prática se fazem sentir principalmente à noite.


Kalu Rinpoche, em seu livro The Dharma, diz: “Recitamos e meditamos sobre o mantra, que é o som iluminado, a fala da divindade, a união do som com a vacuidade. (...)Ele não possui uma realidade intrínseca, é simplesmente a manifestação do som puro, experienciado simultaneamente com sua vacuidade. Através do mantra, não nos apegamos mais à realidade da fala e do som encontrados no cotidiano, mas os experienciamos como sendo vazios. Então, a confusão do aspecto da fala de nosso ser é transformada na consciência iluminada”.




Livro de Ouro dos Mantras - Otavio Leal

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